RELATO DE CASO – Paciente com dor lombar aguda no Hospital Universitário Motol Praga na República Checa.
Trouxe esse relato de caso, pois ele é muito semelhante a outros que quase diariamente aparecem na Clinica. Claro que esse paciente é um caso agudo, mas várias pessoas nos contatam por conta de dores crônicas e acabamos nos deparando com situações como essa.
O paciente era um homem de 43 anos. Reportou um histórico de dor lombar crônica. A condição para qual ele buscou tratamento se iniciou em 2000, com dor no quadrante inferior direito do abdome; ele foi repetidamente examinado por vários clínicos de diferentes especialidades. A despeito de várias avaliações, nada patológico foi encontrado. Após jogar golfe em 4 de abril de 2004, experenciou um aumento excruciante de sua dor. A dor era localizada no quadrante inferior direito do abdome e irradiava para a virilha direita, testículo e também para a parte anterior da coxa direita. Ele estava completamente imobilizado pela dor.
O paciente foi primeiramente examinado no departamento neurológico, onde foi descartada cólica
renal. Ele foi hospitalizado na clínica neurológica do Hospital Universitário Motol em Praga, República Checa. Após o exame neurológico, numerosos testes laboratoriais e consultas especiais foram realizados, a conclusão foi de que o paciente estava experenciando uma cólica abdominal recorrente de etiologia desconhecida, secundária à dor associada com mecanismos nociceptivos neurofisiológicos.
Apesar de apresentar algumas alterações nos exames de imagem, como processos degenerativos de coluna e de disco os achados não teriam uma relação direta ou condizente com a clinica apresentada.
O paciente recebeu tratamento medicamentoso, mas infelizmente esse curso de tratamento resultou em benefícios mínimos. Após um diagnóstico compreensivo, dispendioso e um programa terapêutico o paciente foi referido para a clínica de reabilitação (N.T: A clínica se localiza dentro do mesmo hospital) com sua sintomatologia persistente inalterada.
No exame foi notada uma postura antálgica, mancando, aparentemente protegendo a perna direita. O movimento de extensão lombar imediatamente gerava dor na lombar e na virilha direita. Alongar a coluna lombar (de posterior para anterior) com o paciente deitado de lado revelava uma restrição de movimento dolorosa na altura de L5-S1.
Uma cicatriz sintomática de apendicectomia foi notada. Existia eritema (vermelhidão) ao redor desta cicatriz de 20 anos atrás, que era dolorosa até mesmo na palpação suave e demonstrava resistência ao movimento. Foi observada resistência ao movimento e hipoestesia (N.T: Diminuição da sensibilidade tátil) com alodinia (N.T: Resposta anormal de dor frente a um estímulo que não deveria produzi-la). Uma barreira patológica foi encontrada não somente na derme, mas também nos tecidos subcutâneos, principalmente nas duas extremidades da cicatriz. Além disso, a palpação profunda era dolorosa, com resistência à palpação observada na cavidade abdominal.
Baseado em nossos achados foi traçada uma estratégia terapêutica, que incluía procedimentos de liberação manual da cicatriz. O tratamento iniciou com um alongamento suave da pele, que inicialmente era doloroso. Após alguns segundos, foi obtida uma liberação, que o paciente notou que foi associada com um alívio de sua dor. Então conseguimos uma liberação nas camadas profundas da cicatriz, incluindo a fáscia e o músculo. Isso foi conseguido usando a mesmas técnicas suaves: Alcançar e engajar a barreira em cada camada, usando o mínimo de força, então esperar no ponto de barreira até que se conseguisse a liberação completa. Novamente, o paciente sentiu dor quando o tecido cicatricial mais profundo era liberado, mas logo a dor cedeu, dando lugar a um alívio. O tratamento inteiro demorou 15 minutos.
Imediatamente após o tratamento, a dor no quadrante inferior, virilha, testículo e lombar desapareceu. O paciente foi capaz de ficar em pé e caminhar normalmente. A restrição em L5-S1 também pareceu estar normalizada. No dia seguinte ele teve alta do hospital. Em virtude de alguma dor residual na parte inferior direita do abdome ele visitou nossa clínica a intervalos regulares (1-2 vezes por semana) durante 6 semanas para um total de 9 tratamentos. A cicatriz foi tratada com aplicação de calor (compressas quentes) seguido de tratamento manual dos tecidos moles. Além disso, alongamento e mobilização da fáscia dorsal e mobilização da coluna lombar foi aplicado. Ensinamos o paciente como tratar a si mesmo com auto-mobilizações da coluna lombar e técnicas de alongamento da cicatriz.
O que pode observar no caso descrito é a importância de uma boa avaliação clínica (descartando alterações e doenças mais severas) e das consequencias que o tecido cicatricial pode causar.
Abaixo temos mais dois artigos que podem ajudar você a entender melhor sobre o assunto.