Artigo

Tradução e Adaptação do artigo https://squatuniversity.com/what-causes-plantar-fasciitis/

A maioria das pessoas que recebe o diagnóstico de “fasceíte plantar” tem dor na planta do pé (geralmente perto da parte interna do calcanhar), que é especialmente pior ao dar os primeiros passos pela manhã, depois de acordar. A descrição mais comum dessa sensação é: “Uma faca perfurando a planta do pé a cada passo”. Embora esses sintomas possam desaparecer brevemente durante o dia, eles geralmente pioram com a carga. Isso significa que quanto mais você fica em pé, anda, corre, pior fica a dor.

Eu diria que é um consenso entre os médicos e outros profissionais da saúde como fisioterapeutas rotularmos a dor na parte inferior do calcanhar como “fasceíte plantar”. Sendo uma lesão por uso excessivo em que a fáscia plantar ficava irritada, inflamada e rasgada por tensões repetitivas colocadas sobre ela. Principalmente quando temos essa caracteristica de dor ao levantar da cama.

Durante anos, o primeiro passo para tratar esta lesão foi tentar diminuir a inflamação com gelo, medicamentos e repouso. Quando isso não funcionou, foram usadas órteses para ajudar a apoiar o arco do pé, juntamente com fisioterapia que consiste basicamente em exercícios de alongamento e fortalecimento do pé/panturrilha. Se tudo isso falhasse, passariamos para aplicação de corticosteróides injetados diretamento na fáscia plantar no pé e podendo evoluir até para uma eventual cirurgia. Infelizmente, estes métodos  não  funcionam para muitas pessoas (é por isso que cerca de 50% das pessoas diagnosticadas com “fasceíte plantar” ainda apresentam dores nos pés 15 anos após o seu início).

Felizmente, a nossa compreensão desta lesão problemática mudou em 2003 devido a um artigo inovador do Dr. Harvey Lemont. Em um estudo específico, ele pegou 50 de seus pacientes com fascite plantar grave, cuja dor não melhorou com os tratamentos conservadores tradicionais da época e tiveram que passar por um procedimento cirurgico. Durante a cirurgia foi coletado material da fascia para análise (biópsias).

E adivinhem …

Não houve sinais de inflamação em todas as 50 amostras!

O que ele encontrou foi  tecido morto ou em degeneração e degradação (chamado tecido necrótico). Durante  anos, o diagnóstico de “fasceíte plantar” foi dado sob a suposição de que era causado por inflamação. No entanto, não havia nenhuma evidência científica para apoiar esta afirmação! Por esse motivo, o Dr. Lemont recomendou que parássemos de nos referir incorretamente a essa lesão como “fasceíte plantar” e passássemos a nos referir a ela como “fasciose plantar” (já que o sufixo “ose” refere-se ao processo degenerativo caracterizado por microrrupturas e necrose).

A esta altura você deve estar se perguntando: “Como uma pessoa relativamente saudável consegue um pedaço de  tecido morto  no pé?”

A resposta se resume a um problema com o fluxo sanguíneo.

Quando o dedão do pé é puxado para dentro (o movimento de adução) dentro de um sapato estreito, um músculo na parte interna do pé, chamado abdutor do hálux, é alongado. Este aperto do músculo abdutor leva a uma compressão de uma artéria próxima que corre por baixo, chamada artéria plantar lateral (um pequeno ramo da artéria tibial posterior maior), que então restringe o fluxo sanguíneo para uma parte muito específica da planta do pé. a maioria das pessoas.

Em 2019, um grupo de pesquisadores documentou um estudo, onde os investigadores posicionaram o dedão do pé dos participantes em uma posição estreita e, em seguida, mediram o fluxo sanguíneo no pé. Eles descobriram que essa posição do dedo do pé esmagado criava uma queda imediata de 60% no fluxo sanguíneo através da artéria plantar lateral! Embora o corpo de algumas pessoas tenha conseguido compensar esta diminuição inicial na circulação e regressar aos níveis “normais”, dois terços dos participantes do estudo continuaram a apresentar uma diminuição significativa no fluxo sanguíneo, indicando pouca ou nenhuma recuperação na circulação.

O fluxo sanguíneo deficiente limita a capacidade do corpo de se recuperar do estresse.  Quando você coloca estresse em seu corpo (como durante o treino), partes de seus tecidos são degradadas e depois regeneradas com a ajuda de fluxo sanguíneo suficiente. Com o passar do tempo, esse processo natural de reposição é como a força e a capacidade são construídas nos vários tecidos do corpo.

Se olharmos especificamente para o pé, a fáscia plantar fica sob estresse sempre que você está sustentando peso (caminhando, correndo, pulando, etc.). Aqueles que permanecem descalços tanto quanto possível mantêm os pés saudáveis e com baixíssima incidência de lesões como a fasciose plantar.

No entanto, aqueles que experimentam uma perda de fluxo sanguíneo ideal para a planta do pé devido a calçados mal ajustados são incapazes de repor e regenerar esse tecido de maneira ideal. Desprovidos de fluxo sanguíneo suficiente, os tecidos na parte interna do calcanhar que são irrigados pela artéria plantar lateral começam a se degradar e os sintomas de “fasciose plantar” começam a se manifestar. Uma grande razão para esse problema é a posição de seu dedão do pé dentro de sapatos estreitos! Consequentemente, esta é a razão pela qual os joanetes e as dores na fáscia plantar são considerados “primos” (quanto maior a deformidade do joanete maior o risco de desenvolver dores no calcanhar).

Porque essa diferenciação do processo inflamatório é importante?

A contuda e orientação terapêutica muda. No caso de uma diminuição do fluxo sanguineo ou processo degenerativo, não seria indicado o uso de gelo, mas sim calor, massagem e exercícios específicos para o  pé. Assim como a diminuição do estresse sobre essa estrutura com equilíbrio corporal e o uso de palmilhas posturais.

Por isso é importante procurar um profissional de saúde e discutir sobre essa nova perspectiva para um diangóstico correto.

 

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A terminação ou sufixo desse nome “ite” indica inflamação e no caso da fascite, inflamação na fascial plantar.

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Thiago Alfama

Thiago Alfama

Sou Fisioterapeuta graduado pela pela Universidade La Salle de Canoas/RS desde 2010. Apaixonado pela área que estuda e atua na reabilitação do movimento humano e pelo conhecimento que isso me proporcionou para poder ajudar pessoas a maximizar e explorar seu potencial físico. Atuo como professor pelo Instituto Fortius e também como professor convidado em diversas Instituições pelo Brasil. Em 2019, junto com meus amigos e sócios Leonardo Bazzano e Alexandre Ortiz, fundamos a Clínica Fortius. Um local que idealizamos para ser um centro de excelência em reabilitação e desenvolvimento com uma abordagem INTERDISCIPLINAR para habilitarmos nossos clientes a terem uma vida mais saudável e com qualidade.
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