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Algumas correntes de pensamento pregam que o ser humano sabe correr naturalmente e que a forma como alguém corre é a ideal para seu corpo. Mas quanto de verdade há nessa lógica?

Realmente, via de regra, os animais desenvolvem um padrão de corrida compatível com seus corpos e que atende às suas necessidades de deslocamento, caça e fuga. E é aí que o ser humano moderno destoa. Os filhotes de animais desenvolvem seus movimentos brincando com os irmãos e pais e os utilizam para toda a vida para sobreviver. Enquanto isso, ainda hoje muitos bebês são estimulados a usar andadores ou outros artifícios para ajudá-los a ficar em pé antes que tenham a capacidade de fazer isso por si próprios. Mesmo que deixados desenvolver sua marcha e corrida naturalmente na infância, a sociedade moderna ainda mantém as crianças e adolescentes muitas horas sentados em cadeiras em escolas e, desde a invenção do rádio, cada vez mais tempo sedentários consumindo as mais diversas mídias. Chegando no mercado de trabalho, o indivíduo normalmente vai para dois extremos: o trabalho braçal ou intelectual. Seja fazendo faxina ou passando longas horas em escritório sentado em uma mesa, normalmente não há uma ergonomia adequada. Tudo isso reflete diretamente na capacidade do indivíduo de se movimentar.

Outra diferença entre animais e humanos é a relação com a corrida. Animais não correm por longos períodos, apenas o suficiente para alcançar sua presa ou fugir de seus predadores. Deslocamentos mais longos são sempre realizados em baixas velocidades, pois há uma necessidade primordial de economia de energia. Humanos correm por hobby ou trabalho, normalmente em longas sessões ou muitos curtos períodos. Isso nos torna mais suscetíveis às consequências de eventuais disfunções da mecânica de movimento.

Quando um desenvolvimento incorreto do movimento encontra a corrida (assim como qualquer outra atividade física), temos um cenário de alto risco de lesão musculoesquelética. Se uma pelve sem estabilidade não compromete um pique para atravessar a rua, ela vai expor as estruturas adjacentes a sobrecargas importantes quando a pessoa começa a correr meia hora por dia. E essa sobrecarga vai aumentando junto com o volume de treino, eventualmente atingindo o ponto de causar danos a músculos, tendões e articulações.

Diante disso, fica fácil de compreender que, em vez de algo inato, correr é uma habilidade que pode ser treinada. Sincronia de membros, estabilidade da pelve, ponto de contato com o solo, recuperação da perna, inclinação do tronco e muitos outros pontos podem, e devem, ser trabalhados para buscar a maior eficiência com o menor risco de lesão possível. Correr com uma boa mecânica permite que o indivíduo continue praticando o esporte por muito tempo, mantendo-se ativo ao longo dos anos com mais saúde e qualidade de vida.

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João Monassa

João Monassa

Profissional de Educação Física formado pela ULBRA Canoas em 2009 e especialista em Fisiologia do Exercício (Universidade Gama Filho, 2013). Sou personal trainer, atendendo um público bastante diverso. Também desenvolvi trabalhos em academias de musculação, saúde do trabalho e esporte de rendimento. Atuo na Clínica Fortius como treinador do F Run, o clube de corrida da Fortius, e preparador físico.
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