Você sabia que a dor no joelho ou na lombar pode estar relacionada a uma disfunção na coluna cervical?
Um fenômeno intrigante tem se tornado cada vez mais comum aqui na clínica. Não se trata de um caso isolado, mas de uma série deles.
Quando falamos sobre a coluna, devemos lembrar que ela é uma unidade integrada, seja na região cervical, dorsal ou lombar. É fácil imaginar que a coluna possa gerar compensações ou torções, provocando sintomas em outras áreas do corpo. Por exemplo, uma tensão no pescoço pode resultar em dor lombar, e uma rigidez na região torácica pode sobrecarregar a coluna cervical. Essas compensações podem ocorrer em todo o corpo.
Na região cervical, especialmente na parte superior (conhecida como “cervical alta”), passa grande parte da inervação do corpo. Além disso, essa área é crucial para o nosso equilíbrio. O encaixe entre a cabeça e a primeira vértebra cervical (atlas) funciona como um prumo ou nível, e nosso corpo busca sempre alinhar os olhos com o horizonte, mesmo que isso crie curvas na coluna, como em uma escoliose compensatória. Quando essa região ou vértebra específica está desalinhada ou sem mobilidade, chamamos isso de disfunção do Atlas Ortogonal.
Estudos clínicos e científicos mostram que a disfunção do atlas pode estar associada a desequilíbrios no sistema músculo-esquelético. Se essa vértebra estiver fora da posição ortogonal ou neutra, toda a coluna subsequente pode ser afetada. O corpo, então, tenta se adaptar posturalmente, reposicionando a cabeça em relação ao centro de gravidade entre os pés, o que pode causar desequilíbrios musculares.
É comum atender pacientes com dores em ambos os joelhos (sem relação com processos degenerativos graves ou lesões) ou na lombar. Na avaliação física, muitos apresentam inibição muscular, especialmente nos músculos reto da coxa, quadrado lombar e glúteo máximo, além de dificuldade em ativar o abdômen. Ao examinar a coluna cervical desses pacientes, frequentemente encontro rigidez ou falta de mobilidade nas duas primeiras vértebras cervicais (cervical alta) e excesso de tensão nos músculos suboccipitais que envolvem essa região. Essa limitação de mobilidade pode afetar a propriocepção articular e o equilíbrio, alterando nosso “prumo” natural. Como resposta, o corpo pode inibir a contração de alguns músculos ou gerar torções na coluna e pelve, sobrecarregando a região lombar e/ou joelho, causando dores em uma ou ambas as regiões.
A disfunção do atlas pode ser causada por traumas diretos, como lesões de chicote (acidentes ou quedas), práticas de esportes de combate, como o jiu-jitsu, que envolvem força no pescoço, ou excesso de tensão na musculatura cervical.
Lembrando que, para se encaixar nesse diagnóstico, é necessário uma avaliação clínica e palpatória de um profissional capacitado. Pacientes geralmente apresentam queixas bilaterais, como dor em ambos os joelhos, toda a lombar ou em todo um lado do corpo, como dor no ombro, quadril e joelho de um lado só do corpo.
O tratamento focado em ganhar mobilidade na região cervical pode ser muito eficaz. Técnicas como mobilização ou manipulação articular, quiropraxia agulhamento muscular (dry needling), liberação miofascial e exercícios de ativação dos músculos que estavam inibidos podem ajudar a aliviar os sintomas. Além disso, considerar o tratamento para o bruxismo, quando ele está relacionado a tensões musculares no crânio, é uma abordagem abrangente.