Como funciona a EPI?
A técnica denominada de Eletrólise Percutânea Intratissular (EPI®), surge com a premissa de modificar a biologia do local danificado através da atuação direta sobre a estrutura, visando estimular a atividade celular e a produção de colágeno no intuito de reestruturar a matriz deste tecido. A EPI® constitui-se numa técnica minimamente invasiva, usada recentemente nos recursos eletrofisioterápicos, a qual consiste na aplicação de uma corrente galvânica de alta intensidade com um fluxo catódico percorrendo uma agulha de acupuntura, sendo esta agulha aplicada diretamente no tecido patológico. De acordo com a fundamentação teórica da EPI®, em virtude da capacidade da corrente galvânica dissociar a molécula de água que se encontra no meio intracelular da estrutura, o radical hidroxila (OH-) da molécula de água, por afinidade eletroquímica, liga-se ao íon sódio (Na+), cujo resulta na formação de hidróxido de sódio ou soda cáustica (NaOH). Graças a propriedade corrosiva do NaOH, a área altamente degenerada do tecido é removida, provocando, em seguida, um processo inflamatório benéfico para cicatrização, regeneração e reparo do tecido afetado.
A dor musculoesquelética possui alta prevalência na população em geral e pode afetar diversos tecidos do corpo humano. A busca por tratamentos farmacológicos e não farmacológicos com o objetivo de reduzir a dor, melhorar a função e qualidade de vida dos pacientes é contínua, portanto é importante buscarmos outras técnicas que possam ser mais eficazes e com melhor resposta para o tratamento das lesões musculares.
Como funciona o músculo?
O músculo esquelético pode ser considerado de forma simplista como composto de 2 componentes principais, as miofibrilas e o tecido conjuntivo. As miofibrilas com seus nervos inervadores são responsáveis pela função contrátil do músculo, enquanto o tecido conjuntivo fornece a estrutura que une as células musculares individuais durante a contração muscular e envolve os capilares e nervos dentro da estrutura muscular. As miofibrilas individuais são unidas por uma estrutura de tecido conjuntivo composta por 3 níveis de bainhas chamadas endomísio, perimísio e epimísio. A actina e a miosina estão presentes nas fibras musculares, que são células alongadas com capacidade de contração. Quando o músculo é estimulado, a actina e a miosina deslizam uma sobre a outra, encurtando as fibras musculares e permitindo a contração.
O que ocorre na lesão muscular?
Lesões musculares são um dos traumas mais comuns que ocorrem nos esportes, normalmente causadas por uma contusão (pancada) ou estiramento/distensão que é uma força de tração excessiva submetida ao músculo que não suporta a carga e acaba se rompendo, normalmente próximo as junções miotendíneas. O tratamento mal sucedido pode ser muito dramático, quando não bem tratado pode ocorrer uma relesão no tecido recém reparado que ainda não estava pronto para receber alta demanda esportiva, e com isso, possivelmente adia o retorno do atleta aos esportes por semanas ou até meses. Devemos ter atenção de que o novo tecido já está apto para retornar ao esporte, mas para isso precisamos de uma boa reabilitação fisioterapêutica para cicatrizar, fortalecer e dar capacidade do músculo contrair de forma isométrica, concêntrica e excêntrica, além de ter um bom alongamento para diminuir a chance de uma nova lesão.
Dividimos a lesão muscular em 3 principais fases:
Fase 1: destruição – caracterizada pela ruptura e posterior necrose das miofibrilas, pela formação do hematoma no espaço formado entre o músculo roto e pela proliferação de células inflamatórias.
Fase 2: reparo e remodelação – consiste na fagocitose do tecido necrótico, na regeneração das miofibrilas e na produção concomitante do tecido cicatricial conectivo, assim como na neoformação vascular e no crescimento neural.
Fase 3: remodelação – período de maturação das miofibrilas regeneradas, de contração e de reorganização do tecido cicatricial e da recuperação da capacidade funcional muscular.
Além disso, As lesões musculares são classificadas em três graus, de acordo com a gravidade da lesão e com o número de fibras musculares afetadas:
- Grau I: É uma lesão leve que afeta poucas fibras musculares. Os sintomas incluem edema e desconforto, e o período de recuperação é de 3 a 15 dias.
- Grau II: É uma lesão moderada, que afeta mais fibras musculares. Os sintomas incluem dor moderada, inchaço, equimose, e perda parcial de força e função. O período de recuperação é de 3 a 8 semanas.
- Grau III: É uma lesão grave, que resulta em uma ruptura completa do músculo ou separação do músculo do tendão. Os sintomas incluem dor intensa, inchaço significativo, hematomas extensos, e perda quase total de função do músculo afetado. O período de recuperação é de 8 a 12 semanas.
Função da fisioterapia na lesão muscular
Sabendo de todas estas informações descritas acima, o fisioterapeuta consegue manejar da melhor possível uma lesão muscular. Há técnicas como a EPI para ajudar a acelerar o controle da inflamação, diminuição de dor e auxiliar no reparo do tecido, o qual pode ser associado ao Laser Infravermelho que tem a função fisiológica de recrutar as células de defesas para controlar a inflamação e a cicatrização do tecido lesionado. Além disso, visto como mais importante, o fisioterapeuta tem a capacidade de ensinar exercícios específicos na hora certa para que o músculo comece a ter uma leve contração para ajudar no reparo, além de melhorar a capacidade contrátil e funcional do paciente, levando a melhora nas atividades diárias para após o processo de reabilitação o paciente esteja apto para retornar as atividades esportivas ou de vida diária sem problemas.
Se por acaso você está com uma lesão muscular saiba que há solução para o seu problema! Não deixe de buscar ajuda profissional para realizar o seu tratamento de forma adequada para que você retorne ao seu esporte mais rápido e com mais confiança.
Referências
- Gustavo Oliveira e Silva (2018). “UTILIZAÇÃO DA ELETRÓLISE PERCUTÂNEA INTRATISSULAR (EPI®) NA TENDINOPATIA PATELAR EM ATLETAS DE VOLEIBOL: uma revisão narrativa”
- Matheus H. L. Ferreira (2024) Percutaneous Needle Electrolysis for the Treatment of Musculoskeletal Disorders: A Bibliometric Analysis. FACSETE Health Sciences, v. 3, n. 1, 2024.
- Manuel Rodríguez-Huguet et al. (2020). “Effectiveness of Percutaneous Electrolysis in Supraspinatus Tendinopathy: A Single-Blinded Randomized Controlled Trial) J. Clin. Med. 2020, 9, 1837
- Järvinen et al. (2005) “Muscle Injuries Biology and Treatment”. The American Journal of Sports Medicine
- SantAnna et al. (2020) “Lesão muscular: Fisiopatologia, diagnóstico e tratamento”. Revista Brasileira de Ortopedia 2022