O ombro congelado, também conhecido como capsulite adesiva, é uma condição dolorosa e debilitante que afeta muitos indivíduos. Estima-se que 50 a 80% das pessoas com dor no ombro não procuram atendimento médico/fisioterapêutico, mas a dor no ombro é a terceira razão musculoesquelética mais comum.
O Que É a Capsulite Adesiva?
A Capsulite é uma combinação de dor e rigidez no ombro que frequentemente causa distúrbios do sono e incapacidade acentuada. A condição segue um curso prolongado e, em alguns casos, pode não se resolver completamente.
A terminologia para esta condição evoluiu:
• Historicamente, no Japão, era conhecida como “ombro dos anos 50”, referindo-se à dor no braço e nas articulações que se desenvolve por volta dos 50 anos e melhora com o tempo.
• No Ocidente, foi inicialmente descrita como “periartrite escapuloumeral” em 1867.
• O termo “ombro congelado” foi cunhado pelo cirurgião americano EA Codman em 1934.
• Atualmente, o termo “capsulite adesiva” é amplamente utilizado, especialmente nos EUA, descrevendo uma patologia primária onde a cápsula da articulação do ombro fica espessada e contraída, aderida ao úmero e a si mesma na prega axilar.
• Considerando a proeminência da contratura capsular, a designação “ombro (congelado)” foi sugerida e adotada nestas diretrizes.
A patologia envolve tanto inflamação quanto cicatrização, com algumas evidências sugerindo que a inflamação leva à cicatrização. Uma característica notável é o encolhimento do volume da cápsula articular para apenas 3-4 ml e a formação de novos vasos sanguíneos na membrana sinovial, que podem ficar embutidos em tecido cicatricial espesso.
• Causa Primária (Idiopática): A condição pode ter um início insidioso ou espontâneo, ou seja, sem uma causa aparente.
• Causa Secundária (Associada a Outros Eventos ou Condições): A capsulite adesiva também pode ser secundária a outros eventos ou condições.
◦ Trauma: Pode ser secundária a um trauma.
◦ Cirurgia: Outros “eventos” incluem cirurgia ortopédica com imobilização do ombro, cardíaca ou neuro.
◦ Diabetes: É uma “outra condição” frequentemente associada. Em pessoas com diabetes grave, o ombro congelado não é apenas mais prevalente, mas também potencialmente mais lento para resolver e mais resistente ao tratamento.
◦ Doença de Dupuytren: Em casos graves de doença de Dupuytren, a condição pode ser mais prevalente, ter uma resolução mais lenta e ser mais resistente ao tratamento.
•Aspectos psicossociais: Ansiedade, depressão, perda de um ente querido, traumas, podem levar a condição. Mulheres após o período do climatério.
É importante notar que o processo de pesquisa clínica para o ombro congelado ainda está em andamento, e muitos estudos anteriores tinham limitações metodológicas. Pesquisas futuras buscam focar em estágios específicos da condição para melhor adaptar as intervenções.
Diagnóstico e Avaliação Chave
O diagnóstico baseia-se em características clínicas.
Os principais pontos-chave no diagnóstico e avaliação incluem:
• Restrição da rotação externa passiva: Este é o principal teste diagnóstico, embora também possa ocorrer em outras condições. A rotação externa restrita tem sido associada ao encurtamento da cápsula do intervalo rotador.
• Padrão capsular: Caracterizado por restrição da rotação externa, abdução e rotação interna, nesta ordem, com as rotações testadas com o cotovelo ao lado.
• A capsulite é dividida em 3 fases:
Fase Dolorosa (ou de Congelamento)
- Duração: geralmente de 2 a 9 meses.
- Características: dor intensa no ombro, principalmente à noite e em repouso; progressiva limitação dos movimentos.
- Mecanismo: inflamação da cápsula articular.
Fase de Rigidez (ou Ombro Congelado)
- Duração: pode durar de 4 a 12 meses.
- Características: dor tende a reduzir, mas a rigidez articular se instala de forma marcante; limitações acentuadas de movimentos como elevação, rotação externa e abdução.
- Mecanismo: espessamento e retração da cápsula.
Fase de Recuperação (ou Descongelamento)
- Duração: 6 a 24 meses.
- Características: dor mínima ou ausente; recuperação progressiva da amplitude de movimento.
- Mecanismo: remodelamento gradual da cápsula e melhora funcional.
Estratégias de Tratamento Baseadas em Evidências
1. Manejo Conservador:
• Aconselhamento e Educação:
◦ Tranquilizar o paciente sobre a raridade de causas graves e a natureza geralmente autolimitada da condição.
◦ Educar sobre os mecanismos da dor e o espectro de sintomas.
◦ Fornecer orientações para modificação de atividades (em casa, trabalho, lazer) e estratégias de autocuidado, como formas alternativas de vestir-se ou apoiar o braço afetado.
• Terapia por Exercícios:
◦ Para a fase de dor predominante, exercícios ativos rítmicos suaves podem reduzir a dor e manter a saúde dos tecidos.
◦ Para a fase de rigidez predominante, exercícios baseados em função são usados para restaurar a amplitude ou qualidade do movimento.
• Terapia Manual (Mobilizações Articulares):
◦ Para dor predominante, o objetivo principal é o alívio da dor usando mobilizações rítmicas dentro de uma amplitude confortável.
◦ Para rigidez predominante, o objetivo é restaurar a amplitude de movimento, alongando a articulação em resistência.
• Termoterapia (Calor/Frio):
◦ Amplamente utilizado para promover reparação e cicatrização.
• Eletroterapia (TENS):
◦ Usada principalmente para alívio da dor.
◦ A TENS é considerada uma intervenção de baixo custo para controle da dor para comprar e fazer em casa.
• Acupuntura:
◦ Usada para tratar a dor.
• Liberação Capsular Artroscópica e Manipulação Sob Anestesia:
◦ Geralmente reservadas para pacientes que não melhoram com a fisioterapia adequada.
◦ A técnica envolve mobilização da articulação sob anestesia geral.
O principal objetivo é recuperar a função do ombro: diminuir a dor a curto e longo prazo, restauração da amplitude de movimento ativa e passiva e recuperar a força muscular do membro acometido. Em alguns casos, a capsulite pode evoluir para o ombro contralateral após um período (não há um consenso de tempo).