Como a avaliação individualizada mudou a história de dor crônica no joelho de um Atleta
✅ Apresentação do Caso
Paciente do sexo masculino, 37 anos, praticante de tiro esportivo, com histórico de dor no joelho esquerdo desde a adolescência. Há cerca de sete anos recebeu diagnóstico médico de descolamento patelar, condição que, desde então, limita sua participação em diversas práticas esportivas.
Ao longo dos anos, tentou modalidades como tênis, corrida e musculação, mas frequentemente apresentava dor associada a inchaço articular, especialmente em movimentos que exigem desaceleração rápida, como ocorre no tênis e também no tiro esportivo, quando precisa assumir rapidamente a postura de disparo.
Atualmente, mesmo com acompanhamento de um treinador e realizando treinamento físico desde fevereiro de 2025, relata que seu joelho esquerdo se torna sensível em situações de maior volume de treino ou em movimentos específicos, gerando desconforto, medo de piora e receio de limitar seu desempenho esportivo.
🔎 Avaliação Funcional e Postural
Na avaliação física foram observados:
- Padrão postural escoliótico, com ombro direito mais baixo;
- Dismetria de membros inferiores, com perna direita 4 mm mais curta;
- Assimetria no volume muscular, com coxa esquerda menor;
- Déficit na ativação de resposta rápida do quadríceps esquerdo, principalmente do reto femoral e inibição de glúteo máximo esquerdo;
- Importante tensão na região suprapatelar esquerda;
- Fraqueza e inibição muscular, principalmente de reto femoral e glúteo máximo esquerdo.
Esses achados podem explicar a sobrecarga no joelho esquerdo, principalmente em atividades que exigem desaceleração e estabilidade dinâmica.
🎯 Hipóteses e Justificativa Terapêutica
A análise detalhada permitiu identificar que a dor não estava diretamente relacionada apenas ao descolamento patelar, mas sim a uma disfunção miofascial associada a uma alteração biomecânica da articulação patelofemoral.
🔸 A tensão na região suprapatelar, especialmente na musculatura associada ao gênero articularis, promove alteração na movimentação da bursa suprapatelar e, consequentemente, na mecânica do joelho.
🔸 A literatura recente descreve que o gênero articularis, tradicionalmente pouco valorizado, possui papel relevante no controle da bursa suprapatelar e na mecânica fina da articulação do joelho. Disfunções nessa musculatura estão relacionadas à dor anterior no joelho, principalmente quando associadas à osteoartrite e à síndrome patelofemoral.
🔸 Além disso, a cronicidade do quadro favorece processos de densificação tecidual, fibrose e disfunção neuromuscular, reforçando a necessidade de abordagem combinada.
🛠️ Intervenção Realizada
O protocolo de intervenção foi extremamente objetivo e direcionado:
- Dry Needling (Agulhamento Seco) na região suprapatelar, com foco na liberação de pontos gatilho e tensões miofasciais;
- Eletrólise Percutânea Intratissular (EPI) na região suprapatelar, visando romper tecidos densificados e estimular um processo inflamatório controlado, favorecendo a regeneração tecidual organizada;
- Liberação Miofascial Profunda, utilizando técnica de massagem de fundo de saco para reduzir aderências na cápsula articular e melhorar o deslizamento da bursa;
- Reprogramação motora e controle neuromuscular, com foco em:
- Exercícios excêntricos específicos para quadríceps;
- Treino de desaceleração (muito relacionado à sua prática esportiva);
- Trabalho de feetwork e agilidade, com o objetivo de reduzir a cinesiofobia (medo do movimento) e devolver segurança na execução dos gestos esportivos.
💥 Resultado
Após três semanas de trabalho conjunto, com apenas duas sessões de fisioterapia associadas a um trabalho de reeducação com o treinador, e o paciente ficou completamente assintomático, retomando todas as atividades sem qualquer sinal de dor ou desconforto — algo que não acontecia há mais de 10 anos.
🔬 Discussão e Embasamento
A escolha das técnicas não foi aleatória. A região suprapatelar é uma interface complexa onde se inserem estruturas fundamentais para o equilíbrio biomecânico do joelho, como:
- Gênero articularis, que atua na retração da bursa suprapatelar, evitando seu aprisionamento durante a extensão do joelho.
- Vasto medial e vasto intermédio, que trabalham sinergicamente com o gênero articularis, formando um sistema integrado de controle fino da patela.
Alterações nessa região, quando associadas a inibição muscular, dismetria, assimetrias e tensão miofascial, impactam diretamente a dinâmica patelofemoral, resultando em sobrecarga articular, dor e limitações no movimento.
Pesquisas recentes (Woodley et al., 2012) reforçam que disfunções no gênero articularis são uma causa subestimada de dor anterior no joelho, especialmente quando associadas à osteoartrite e síndromes de sobrecarga.
📌 Conclusão — A Importância da Avaliação Individualizada
Este caso clínico reforça um princípio que aplicamos todos os dias na prática clínica: a dor não é o problema, ela é o sintoma.
Tratar apenas a dor, sem entender as causas biomecânicas, posturais e funcionais, resulta em tratamentos paliativos e reincidência dos sintomas.
O sucesso desse atendimento foi possível porque:
- O tratamento não foi focado na dor, mas sim nas disfunções que geravam o quadro;
- A escolha das técnicas foi feita com base em uma avaliação precisa, individualizada e biomecânica;
- Houve uma integração entre terapia manual, fisioterapia invasiva e reabilitação funcional ativa.
Se você sofre de dores crônicas no joelho, sente que já tentou de tudo e não evolui, o problema pode não estar onde você sente a dor, e sim na mecânica do seu corpo. A avaliação correta faz toda a diferença.